10/10/2013

Das homilias sobre os Evangelhos, de São Gregório Magno, papa (Hom. 17,3.14:PL76,1139-1140.1146) (Séc.VI)



A responsabilidade do nosso ministério

Ouçamos o que diz o Senhor aos pregadores enviados: A messe é grande, mas poucos os
operários. Rogai, portanto, ao Senhor da messe que envie operários a seu campo. São
poucos os operários para a grande messe (Mt 9,37-38). Não podemos deixar de dizer isto
com imensa tristeza, porque, embora haja quem escute as boas palavras, falta quem as diga.
Eis que o mundo está cheio de sacerdotes. Todavia na messe de Deus é muito raro
encontrar-se um operário. Recebemos, é certo, o ofício sacerdotal, mas não o pomos em
prática.

Pensai, porém, irmãos caríssimos, pensai no que foi dito: Rogai ao Senhor da messe que
envie operários a seu campo. Pedi vós por nós para que possamos agir de modo digno de
vós. Que a língua não se entorpeça diante da exortação, para que, tendo recebido a condição
de pregadores, nosso silêncio também não nos imobilize diante do justo juiz. Com
freqüência, por maldade sua, a língua dos pregadores se vê impedida. Por sua vez, por
culpa dos súditos, muitas vezes acontece que seus chefes os privem da palavra da pregação.

Por maldade sua, com efeito, a língua dos pregadores se vê impedida, como diz o salmista:
Deus disse ao pecador: Por que proclamas minhas justiças? (Sl 49,16). Por sua vez, por
culpa dos súditos, cala-se a voz dos pregadores. É o que o Senhor diz por Ezequiel: Farei
tua língua aderir a teu palato e ficarás mudo, como homem que não censura, porque é uma
casa irritante (Ez 3,26). Como se dissesse claramente: A palavra da pregação te é recusada
porque, por me exacerbar com suas ações, este povo não é digno de escutar a verdade que
exorta. Não é fácil saber por culpa de quem a palavra se furta ao pregador. Porque se o
silêncio do pastor às vezes o prejudica, sempre causa dano ao povo, isto é absolutamente
certo.

Há ainda outra coisa, irmãos caríssimos, que muito me aflige na vida dos pastores, mas para
não pensardes talvez que vos faz injúria aquilo que vou dizer, ponho-me também debaixo
da mesma acusação, embora me encontre neste posto não por minha livre vontade, mas
impelido por estes tempos calamitosos.

Vimos a nos envolver em negócios externos. Um cargo nos foi dado pela consagração e, na
prática, damos prova de outro. Abandonamos o ministério da pregação e, reconheço-o para
pesar nosso, chamam-nos de bispo a nós que temos a honra do nome, não o mérito. Aqueles
que nos foram confiados abandonam a Deus e nos calamos. Jazem em suas más ações e não
lhes estendemos a mão da advertência.
 
Quando, porém, conseguiremos corrigir a vida de outrem,se descuramos a nossa?
Preocupados com questões terenas, tornamo-nos tanto mais insensíveis interiormente
quanto mais parecemos aplicados às coisas exteriores.

Por isso e com razão, a respeito de seus membros enfraquecidos, diz a santa Igreja:
Puseram-me de guarda às vinhas; minha vinha não guardei (Ct 1,6). Postos como guardas
às vinhas de modo algum guardamos a nossa porque, enquanto nos embaraçamos, com
ações exteriores, não damos atenções ao ministério de nosa ação verdadeira.

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