17/05/2014

Pelagianismo

Pelágio foi um monge de origem bretã (Ilhas Britânicas, c. 350-54 - Palestina c.425), de que pouco se sabe, mas deixou um legado doutrinário à Igreja quedesde logo incendiou ânimos e causou controvérsias, nunca mais tendodesaparecido do seio da mesma. Pelágio foi para Roma, cerca de 400, tendo iniciado a escrita da sua primeira obra teológica (um comentário às 13 epístolasde S. Paulo, a par de uma exortação a uma jovem patrícia romana chamadaDemétria), sendo ele nesta matéria um autodidata. O seu poder de persuasãologo se manifestou, atraindo um grupo de intelectuais que em torno de sipassaram a gravitar, entre os quais Celéstio, monge e jurista, autor de umtrabalho sobre o pecado original (Contra traducem Peccati). A obra de Celéstioanuncia  a propagação da doutrina pelagiana e a existência de um movimentoteológico. 
Com efeito, Pelágio considerava o homem capaz de levar uma vida sem pecadograças à força moral a ele dada por Deus, apesar do estado de corrupção eimpureza conferido pelo pecado original de Adão e Eva. Como dizia S. Agostinho,um dos teólogos com quem o monge bretão teve acesa diatribe, toda ahumanidade estava agrilhoada ao pecado original e impossibilitada de não pecar.Pelágio dizia que a queda, a falha, de Adão apenas afetara... Adão! Logo seDeus quer que as pessoas vivam vidas moralmente perfeitas, não deixarátambém, referia Pelágio, de as dotar de capacidade, autossuficiência a nívelmoral para que possam atingir tal perfeição. A graça divina, tão cara aosteólogos agostinianos, era assim prescindível para a salvação do indivíduo, talcomo o batismo, apenas necessário como meio de remissão dos pecados dosadultos. Neste sentido, Pelágio criticava também o exercício do sacramento dobatismo a crianças em tenra idade, fora da "idade da razão", incapazes ainda depecar. O batismo perdia assim o seu significado, enquanto forma de purificar ohomem de um pecado que, defendia Pelágio, apenas caíra sobre Adão e Eva.
Os seguidores de Pelágio e da sua doutrina facilmente chocaram com aortodoxia da Igreja Romana e com a sensibilidade teológica da época,largamente estribada em S. Agostinho. A polémica entre S. Agostinho e osPelagianos foi um dos mais apaixonantes debates da Patrística do século V,levando muitos pensadores a caírem facilmente em posições heterodoxas ouextremas no que toca à teoria da graça divina e do livre arbítrio. Celéstio eJuliano de Eclano foram os que mais radicalizaram a doutrina e a herança dePelágio, reforçando ainda mais a tendência herética do movimento aos olhos daIgreja. Na essência, os sucessores de Pelágio mitigaram ao máximo os efeitosnocivos do pecado original para a humanidade, pois consideravam que avontade humana é perfeitamente livre, dependendo apenas de si para evitar opecado, acentuando assim a separação entre o livre arbítrio e a graça.Acreditavam assim que a infinita justiça e bondade de Deus não impunham nadaque fosse para além das capacidades humanas, não ajudando a uns mais que aoutros. Fazer boas obras segundo o exemplo de Jesus era a chave da Salvaçãopara o Pelagianismo. 
Este movimento teológico conheceu a condenação em 417, em plenacontrovérsia pelagianista (415-418). De facto, perante Pelágio, deu-se anegação das teses pelagianistas por parte do papa Inocêncio I (seguido maistarde por Zózimo), ex cathedra, impondo o fim do movimento, o que não chegoua acontecer. A partir daí, o pano do silêncio da História caiu sobre Pelágio, masnão sobre o Pelagianismo, que agitaria a teologia cristã até princípios do séculoVI. Até 431, o Pelagianismo lutou para fazer vingar as suas teses,principalmente contra S. Agostinho de Hipona, mas o concílio de Éfeso, reunidonaquele ano, cerceou-lhe a difusão e afastou-o da Grécia, onde estava aganhar força, além de lhe ter reduzido a sua força teológica. Com o papaGelásio I (492-496), perdeu o fulgor que conseguira ter, principalmente no Nortede África e na Palestina, não tendo deixado os escritos pelagianos de serexumados das bibliotecas antigas e servido doutrinalmente, como se viu, paraheresias a ulteriori.

Fonte

Infopédia

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