06/03/2015

Anglicanismo

O cristianismo chegou à Inglaterra no século III. Nessa época o território estava sob um processo de colonização romana. Os legionários, mercadores, soldados e administradores levaram à colônia suas leis, costumes e religião. Entre eles havia provavelmente aqueles que tinham abraçado a fé cristã e oravam secretamente a Deus, enquanto os seus companheiros prestavam honras ao império, ao imperador e aos deuses das religiões de mistério. Estamos aqui no terreno das conjecturas. A história não deixou documentos que pudessem provar a veracidade dos fatos. Por isso, nos lugares marcados pelo silêncio da história, encontramos lendas e tradições que falam de viagens missionárias que teriam sido feitas àquela ilha pelos apóstolos Paulo e Filipe e por José de Arimatéia. A primeira referência histórica sobre a existência de cristãos na Grã-Bretanha foi registrada por Tertuliano que, em 208, fala de regiões da ilha que haviam se convertido ao cristianismo. Pouco se sabe sobre esses cristãos durante o segundo século. O certo é que, em 314, três bispos ingleses participaram do Concílio de Arles, no sul da França. Esse fato mostra que já havia uma igreja organizada na grande ilha. No começo do século V, os romanos abandonaram a Grã-Bretanha, permitindo a invasão dos anglo-saxões, que destruíram as igrejas e reduziram a prática da fé cristã durante quase 150 anos. Em 597, o papa Gregório enviou uma comitiva de 40 monges, chefiada por Agostinho, para converter os bretões. A obra missionária iniciada por Agostinho foi consolidada por uma segunda missão romana liderada por Teodoro de Tarso. No final do século X, os dinamarqueses invadiram a Grã-Bretanha e destruíram quase tudo, deixando a impressão que Deus havia se ausentado do mundo. Em 1016, houve uma segunda invasão normanda, mas com a diferença de que o rei era cristão e por isso a igreja foi protegida. Doze séculos depois, a igreja inglesa julgou necessário resistir à antiga intromissão papal, rompendo suas relações com Roma.

Os primeiros sinais da reforma inglesa que vão eclodir na separação provocada por Henrique VIII, em 1534, começaram, na verdade, com Anselmo (1034-1109), que aceitou o convite para ser Arcebispo de Cantuária sob duas condições: que as propriedades da igreja fossem devolvidas pelo rei e que o arcebispo fosse reconhecido como conselheiro do rei em matéria religiosa. A luta que começou entre a coroa e a igreja confirmou, mais tarde, que a Inglaterra fez sua reforma religiosa debruçada sobre si mesma. Henrique VIII não fundou um nova igreja, mas simplesmente separou a igreja que já existia na Inglaterra da tutela e controle romanos por razões políticas, econômicas, religiosas e até pessoais. Durante quase mil anos a Igreja da Inglaterra esteve sob o domínio direto de Roma. Henrique VIII rompeu essa antiga filiação eclesiástica com o apoio do Parlamento. Separada e independente, a Igreja da Inglaterra continuou sua milenar caminhada na história, alternando períodos de influência ora romanístas, ora protestantes. Em 1559, começou o reinado de Isabel I, e com ela veio o controvertido Ato de Uniformidade, que devolveu à rainha o mesmo poder sobre a igreja que tinha Henrique VIII. A era elizabetana foi um período de apogeu. Foi nessa época que começou a colonização da América, onde a igreja anglicana se desenvolveu rapidamente e se organizou principalmente depois da independência americana em 1776. A igreja americana teve seu primeiro bispo em 1784 e manteve a igreja livre do poder civil. Assegurada a sucessão apostólica, a igreja americana se desenvolveu rapidamente, criando dioceses, paróquias e inúmeras instituições.

PRINCÍPIOS
As igrejas anglicanas defendem e proclamam a fé católica e apostólica nas Escrituras e interpretada à luz das tradições, do estudo e da razão. Em obediência aos ensinos de Jesus, as igrejas são comissionadas para proclamar as boas novas do Evangelho para toda a criação. A fé, a ordem e prática estão expressos no Livro de Oração Comum, nos ordinais dos séculos XVI e XVII e mais resumidamente no Quadrilátero de Lambeth, aprovado pela conferência de Lambeth de 1888. Este documento definiu como elementos essenciais de fé e ordem para a busca da unidade cristã:
1. Bíblia Sagrada – Acreditamos que as Sagradas Escrituras contêm toda revelação necessária para que a humanidade alcance vida plena. Toda nossa doutrina e liturgia sustentam-se na Bíblia Sagrada.
2. Os Credos Apostólicos e Niceno – Escritos no tempo da igreja indivisa, constituem a confissão normativa da fé católica que preservamos ainda hoje.
3. Os Sacramentos – A Igreja Anglicana é uma igreja sacramental. Professamos o Santo Batismo e a Santa Eucaristia como legítimos sacramentos diretamente ordenados por Cristo e instrumentos da graça salvífica de Deus. Há outros sacramentos menores, não ordenados por Jesus, mas reconhecidos pela igreja como tendo caráter sacramental. São eles: a Confirmação, a Penitência, as Ordens Ministeriais, o Matrimônio e a Unção dos Enfermos.
4. Episcopado histórico – Professamos que a autoridade transmitida por Cristo aos apóstolos e esses aos seus sucessores (incluindo nossos bispos) é, ao mesmo tempo, garantia e expressão da catolicidade e apostolicidade da Igreja.
O ponto central de adoração é a Santa Eucaristia, que é chamada também de Santa Comunhão, Santa Ceia, Ceia do Senhor ou Santa Missa. No oferecimento da oração e do louvor, são relembrados a vida, a morte e a ressureição de Cristo por meio da proclamação da Palavra e da celebração do sacramento. A adoração está no centro do anglicanismo.

RITOS DE CARÁTER SACRAMENTAL
A)         Confirmação ou Crisma: Ministrada pelo(a) bispo(a), representa a maioridade na fé e confere a todo confirmado a dignidade do ministério leigo e a plenitude dos dons do Espírito Santo. Para ser confirmada, a pessoa precisa ser batizada, ter aceito Jesus Cristo de forma pessoal e consciente como seu Senhor e receber instrução catequética apropriada.
B)         Matrimônio: A Igreja Anglicana celebra o matrimônio de acordo com as leis do país e desde que um dos nubentes seja batizado. Os divorciados podem casar-se novamente, cumpridas as determinações canônicas da Igreja.
C)         Unção e benção da Saúde: Ministrada pelo sacerdote mediante a imposição das mãos a todos que se sentem abatidos física, mental ou espiritualmente. O sacerdote, se julgar conveniente, pode administrar a benção com óleo consagrado pelo(a) bispo(a).
D)         Penitência: Também conhecida como “Confissão e Absolvição”. Ministrada por um sacerdote coletivamente (durante a liturgia) ou individualmente, assegura o perdão de Deus a todas as pessoas que se arrependerem de suas más ações e desejam reiniciar uma nova vida. “Àqueles a quem vocês perdoarem os pecados, esses serão perdoados” (Jesus em João 20.23).
E)         Ordenação: A Igreja ordena ao sagrado ministério pessoas que tenham recebido elevada preparação teológica para corresponder à dignidade do ministério. As ordens de diácono, presbítero e bispo são cumulativas, vitalícias e abertas a homens e mulheres solteiros(as) ou cadados(as). Nossa Igreja não exige aos sacerdotes o sacrifício do celibato.
SÍMBOLOS
Um dos símbolos mais conhecidos da igreja anglicana é a Rosa dos Ventos (Compass Rose), espalhado por todos os lugares onde existe uma igreja anglicana, demonstrando que o seu uso está se tornando cada vez mais universal. No centro, vemos a cruz de São Jorge, que lembra a origem dos anglicanos.
A inscrição em grego foi tirada de João 8.32 (a verdade vos libertará) e circunda a cruz e a bússola, lembrando a expansão do Cristianismo anglicano pelo mundo. A mitra que em cima do emblema nos lembra o papel do bispo e a ordem apostólica como elementos essenciais das igrejas que integram a grande família da Comunhão Anglicana. A Rosa dos Ventos é um símbolo largamente usado pelos anglicanos como sinal identificador da Comunhão Anglicana.
A cruz celta, é um símbolo do início do cristianismo nas ilhas britânicas, e hoje , muito associada a fé anglicana. O Círculo em volta da cruz simboliza a universalidade de Cristo, que não tem início nem fim, conforme o livro de Apocalipse: “Eu Sou o Alpha e o Ômega, o princípio e o fim, o primeiro e o último” (Ap 22:13)

A Catedral

Catedral Anglicana de São Paulo
A primeira Igreja não Romana no Brasil foi a Anglicana (Church of England), por meio das capelanias inglesas que aqui foram oficializadas em 1810 sendo que a nossa comunidade em São Paulo foi registrada oficialmente em 1873.
A IEAB, como conhecemos, advém dos episcopais americanos e foi estabelecida em 1890. Portanto, as capelanias inglesas têm 80 anos a mais de vida e seus patrimônios são intocáveis, segundo o tratado de 1810 e sempre respeitados nos demais acordos entre as capelanias espalhadas pelo Brasil e a IEAB.  Em 1975 a Saint Paul’s Anglican Church (atual Catedral Anglicana de São Paulo) se filia ESPIRITUALMENTE à igreja nacional, permanecendo com seu patrimônio pertencente à comunidade da Catedral. Esse acordo foi formalizado pela Junta Paroquial, com ênfase na existência de laços espirituais, mas não patrimoniais (a exemplo de Santos e Rio de Janeiro).
A Catedral Anglicana de São Paulo, novamente por meio da soberania constitucional de sua Assembleia Geral, ratifica, por unanimidade, que terá sempre prioritariamente um Bispo da Comunhão Anglicana como líder espiritual, como têm sido ao longo dos seus 140 anos de história. E numa nova Assembleia Geral e soberana, e novamente por unanimidade, confirma os Bispos anglicanos Dom Roger Douglas Bird e Dom Glauco Soares de Lima como seus líderes espirituais.   A Catedral Anglicana de São Paulo continuará dando atendimento espiritual a toda comunidade de língua inglesa (Britânica e Internacional de São Paulo), bem como a todos os organismos oficiais Britânicos. E também, como estabelece seu estatuto, permanecerá levando o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo a todos os Brasileiros que apreciam a forma inclusiva, didática, terapêutica e carinhosa de proclamar as Boas Novas do Reino de Deus. Aliás, é essa maneira Anglicana de ser, que possibilitou a esta Catedral ter a maior comunidade anglicana da América Latina, maior até que a grande maioria das Dioceses episcopais do Brasil.
Somos e seremos sempre anglicanos, respeitando e sendo respeitados pela maneira inclusiva da tradição de nossa Igreja-Mãe – a Church of England -, da qual originamos e temos orgulho de pertencer.

 Junta Paroquial da Catedral Anglicana de São Paulo
 PS: Os senhores juízes de direito, Dr. Bruno Lorencini, Dr. Rafael Henrique, Dr. Aléssio Martins e o advogado Dr. Fabio Sales, são membros da Junta Paroquial da Catedral Anglicana de São Paulo. Nas suas atividades como cristão e membros de nossa Catedral, eles nos auxiliam para que nossa igreja esteja sempre em conformidade com as leis do nosso País.
Fonte:
Catedral Anglicano de S. Paulo

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