Embora sejadiscutívelapresentar uma relação de causalidade
entre dois universos mentais e dois acontecimentos
históricos, sucessivos ou não cronologicamente, é conveniente,
talvez até necessário, para se compreender
uma doutrina como o estoicismo, que se tenham em conta
o momento e a circunstancia em que a mesma foi formulada.
Isso ocorre mais ou menos concomitantemente com a
introdução de uma religião oriental, o cristianismo, na civilização
greco-romana. Não se pretende aqui discutir toda a
filosofia estóica, em sua lógica, física e ética, nem descrever
e distinguir os diferentes estoicismos, desde aquele ateniense
de Zenão, no século IV a.C., até o romano, de Epíteto,
Cicero, Sêneca e Marco Aurélio, por volta do séc. III d.C.
Nem 6 propósito privilegiar a influência que as filosofias
helenistas exerceram sobre o cristianismo, em vez de ressaltar,
como se poderia, as mudanças sofridas pelo
estoicismo romano com o avançodo pensamento cristão.
Seguramente houve ambas as relações de causalidade,
embora seja mais comum falar-se apenas da primeira.
De qualquer forma que se vejam o estoicismo e a
doutrina religiosa do cristianismo nascente, é impossível
silenciar acerca das semelhançasentre eles. E isso é útil
não só para entendermos melhor o importante fenômeno
da expansão do cristianismo, e não de outras religiões orientais,
mas também para percebermos que o cristianismo
que conhecemos deve ser analisado também como forma
de pensar e viver oriental que se expandiu mediante a ado-
ção de elementos da cultura clássica antiga. E isso tem a
ver com o debate, tão comum entre nós, a respeito do uso
de Platão e Aristóteles pelo cristianismo e, depois, pelo pensamento
moderno, esquecendo-nos, equivocada e frequentemente,
de que já os estóicos atenienses posicionaram-se,
nalguns aspectos, como ruptura com a Academia e com c)
Liceu, e que exatamente naquilo em que os estóicos rompem
com a filosofia anterior se aproximam de elementos
doutrinários do cristianismo e também de aspectos do pensamento
moderno.
Para que se situem melhor as relações entre estoicismo
e cristianismo, devemos considerar igualmente que é um
equivoco identificar o cristianismo dos primeiros séculos
com uma doutrina unitária e sólida. Sabe-se que há uma
luta entre aqueles que pretendem mantê-lo vinculado à tradição
oriental, não dualista, mas monista, como era a cultura
semita - e os fundadores da Escola do Pórtico, Zendo e
Crisipo, têm formação semita - e os que procuram, talvez
com o objetivo de divulgar mais rápida e eficazmente a
"encarná-la", revesti-la com a linguagem grecoromana.
Assim, mesmo nos escritos vétero - e neotestanrientários
- observam-se maneiras de ver diversas, e neste
caso são decisivas, por exemplo, as distinções entre os quatro
evangelhos au entre os escritos do apóstolo, filo-grego e
semita, Paulo de Tarso. Podemos sustentar, de forma geral,
que é com Paulo que se dá a passagem do cristianismo
orientalizado para aquele helenizado, e que no embate, às
vezesásperoe nunca tranquilo, entre os primeiros teólogos,
acaba vencendo o cristianismo helenizado, sucessiva...
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