13/11/2015

A Emblemática Travessia do Mar Vermelho: do passado de um povo ao presente da humanidade

Por Maria Cecília Mendia mestranda em ciência da religião na PUC-SP.

A descrição da travessia do Mar Vermelho encontra-se no Livro do
Êxodo, que é o segundo livro do Pentateuco, assim denominado
no cristianismo e segundo livro da Tora, para o judaísmo. A palavra
êxodo significa “saída”, em grego. Este livro trata da migra-
ção da população israelita do Egito com destino à Canaã. Em seus
quarenta capítulos são relatados os fatos que constituem o evento
criador da história dos hebreus como um povo, desde a morte de
José, no Egito até a construção do santuário junto ao monte Sinai,
no deserto do Sinai.

Nessa narrativa encontram-se os temas básicos da teologia bíblica, como a intervenção
divina que libertou o povo hebreu, a saída do Egito e a travessia do Mar Vermelho, a aliança
de Deus com o povo hebreu no monte Sinai e a doação da Lei; a peregrinação pelo deserto e
as murmurações do povo. São temas que ecoam ainda hoje na teologia e na espiritualidade
judaica e cristã.

Estes temas originalmente foram transmitidos por via oral, é possível que, por volta do
século VI A.C. tenham se tornado textos literários escritos na língua hebraica e depois foram
transcritos para a língua grega, na Bíblia dos LXX ou Septuaginta.
A autoria do Livro do Êxodo foi atribuída ao próprio Moisés, cujo nome é de origem egípcia 
e significa possivelmente filho menino, mas a etimologia popular por assonância fez derivar
do termo hebreu maxah, que significa tirar e atribuiu esse significado ao nome Moisés, pois
segundo a narrativa bíblica ele foi tirado da água do rio, em sua cestinha.

A literatura bíblica:
Entre os textos literários, os textos bíblicos, com conteúdos de significado existencial tornaram-se
um patrimônio cultural da humanidade. O que permite sua reflexão são, entre outras
possibilidades, os vários gêneros literários2
 que compõem a Bíblia, e que expressam as experiências
vividas no relacionamento com Deus:
A Bíblia como o nome indica significa biblioteca, e de fato ela é
composta por livros de diversos gêneros literários: contos, novelas,
romances, sagas, poemas, sermões, orações, narrativas histó-
ricas, cartas e outros. Ela não pode ser considerada um livro científico
no sentido estrito do termo, mas sim, digamos literário. O
que há são narrações de experiências vividas no relacionamento
com Deus. São narrativas que expressam metaforicamente, a compreensão
que se tem de Deus. São também formas de se referir à
experiência de fé e de transmiti-la às outras gerações e aos outros
povos. Isso se faz na forma do testemunho de fé, que é ele próprio
narrativo3
.
Para o teólogo, Juan Luis Segundo4
 a comunicação divina é feita em linguagem icônica, ou
seja, através de mitos, lendas, narrações e histórias. São figuras de linguagem, que apelam para
a imaginação e o afeto. Esse tipo de linguagem convive com outro tipo que é a linguagem digital,
que imita a científica aplicada a coisas ou a abstrações e pode-se reconhecê-la como mais
dogmática.
Em conformidade com J. L. Segundo deve-se calibrar a verdade da narração no nível, em
que adapta-se os elementos significativos normativos, à busca do sentido da narrativa, para
comunicar o que se quer5
.
A questão que é colocada por J. L. Segundo6
 é:
Tem de ter acontecido verdadeiramente, ou isso não é necessário
para que seja verdade o que ali se crê? E afirma que, somente enquanto
elevados a dados transcendentes, certos fatos se tornam
fontes de sentido e de verdade.


Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura - Ano IX, n. 42

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