09/03/2016

DIVISÃO E CONTEÚDO: Evangelho de S. Mateus




Apesar dos característicos agrupamentos de narrações, não é fácil determinar o plano ou estabelecer as grandes divisões do livro. Dos tipos de distribuição propostos pelos críticos, podemos referir três:
1. Segundo o plano geográfico: o ministério de Jesus na Galileia (4,12b-13,58), a sua actividade nas regiões limítrofes da Galileia e a caminho de Jerusalém (14,1-20,34), ensinamentos, Paixão, Morte e Ressurreição em Jerusalém (21,1-28,20).
2. Segundo os cinco “discursos”, subordinando a estes as outras narrações: resulta daí um destaque para a dimensão doutrinal e histórica da existência cristã.
3. Segundo o objectivo de referir o drama da existência de Jesus: Mateus apresenta o Messias em quem o povo judeu recusa acreditar (3,1-13,58) e que, percorrendo o caminho da cruz, chega à glória da Ressurreição (14-28).
Aqui, limitamo-nos a destacar:
I. Evangelho da Infância de Jesus (1,1-2,23);
II. Anúncio do Reino do Céu (3,1-25,46);
III. Paixão e Ressurreição de Jesus (26,1-28,20).

TEOLOGIA
Escrevendo entre judeus e para judeus, Mateus procura mostrar como na pessoa e na obra de Jesus se cumpriram as Escrituras, que falavam profeticamente da vinda do Messias. A partir do exemplo do Senhor, reflecte a praxe eclesial de explicar o mistério messiânico mediante o recurso aos textos da Escritura e de interpretar a Escritura à luz de Cristo. Esta característica marcante contribui para compreender o significado do cumprimento da Lei e dos Profetas: Cristo realiza as Escrituras, não só cumprindo o que elas anunciam, mas aperfeiçoando o que elas significam (5,17-20). Assim, os textos da Escritura neste Evangelho confirmam a fidelidade aos desígnios divinos e, simultaneamente, a novidade da Aliança em Cristo.
Nele ressaltam cinco blocos de palavras ou “discursos” de Jesus: 5,1-7,28; 8,1-10,42; 11,1-13,52; 13,53-18,35; 19,1-25,46. Ocupam um importante lugar na trama do livro, tendo a encerrá-los as mesmas palavras (7,28), e apresentam sucessivamente: “a justiça do Reino” (5-7), os arautos do Reino (10), os mistérios do Reino (13), os filhos do Reino (18) e a necessária vigilância na expectativa da manifestação última do Reino (24-25).
Desde o séc. II, o Evangelho de Mateus foi considerado como o “Evangelho da Igreja”, em virtude das tradições que lhe dizem respeito e da riqueza e ordenação do seu conteúdo, que o tornavam privilegiado na catequese e na liturgia. O Reino proclamado por Jesus como juízo iminente é, antes de mais, presença misteriosa de salvação já actuante no mundo. Na sua condição de peregrina, a Igreja é “o verdadeiro Israel” onde o discípulo é convidado à conversão e à missão, lugar de tensão ética e penitente, mas também realidade sacramental e presença de salvação. Não identificando a Igreja com o Reino do Céu, Mateus continua hoje a recordar-lhe o seu verdadeiro rosto: uma instituição necessária e uma comunidade provisória, na perspectiva do Reino de Deus.
Como os outros Evangelhos, o de Mateus refere a vida e os ensinamentos de Jesus, mas de um modo próprio, explicitando a cristologia primitiva: em Jesus de Nazaré cumprem-se as profecias; Ele é o Salvador esperado, o Emanuel, o «Deus connosco» (1,23) até à consumação da História (28,20); é o Mestre por excelência que ensina com autoridade e interpreta o que a Lei e os Profetas afirmam acerca do Reino do Céu (= Reino de Deus); é o Messias, no qual converge o passado, o presente e o futuro e que, inaugurando o Reino de Deus, investe a comunidade dos discípulos a Igreja do seu poder salvífico.
Assim, no coração deste Evangelho o discípulo descobre Cristo ressuscitado, identificado com Jesus de Nazaré, o Filho de David e o Messias esperado, vivo e presente na comunidade eclesial.

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