13/06/2015

13 Junho Santo Antônio de Pádua

Santo Antônio de Pádua é tão conhecido por seu nome de ordenação que chamá-lo pelo nome que recebeu no batismo parece estranho: Fernando de Bulhões e Taveira de Azevedo. Além disso, ele era português: nasceu em 1195, 15 de agosto em Lisboa. De família muito rica e da nobreza, ingressou muito jovem na Ordem dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho. Fez seus estudos filosóficos e teológicos em Coimbra e foi lá também que se ordenou sacerdote. Nesse tempo, ainda estava vivo Francisco de Assis, e os primeiros frades dirigidos por ele chegavam a Portugal, instalando ali um mosteiro. 

Os franciscanos eram conhecidos por percorrer caminhos e estradas, de povoado em povoado, de cidade em cidade, vestidos com seus hábitos simples e vivendo em total pobreza. Esse trabalho já produzia mártires. No Marrocos, por exemplo, vários deles perderam a vida por causa da fé e seus corpos foram levados para Portugal, fato que impressionou muito o jovem Fernando. Empolgado com o estilo de vida e de trabalho dos franciscanos, que, diversamente dos outros frades, não viviam como eremitas, mas saiam pelo mundo pregando e evangelizando, resolveu também ir pregar no Marrocos. Entrou para a Ordem, vestiu o hábito dos franciscanos e tomou o nome de Antônio.

Entretanto seu destino não parecia ser o Marrocos. Mal chegou ao país, contraiu uma doença que o obrigou a voltar para Portugal. Aconteceu, porém, que o navio em que viajava foi envolvido por um tremendo vendaval, que empurrou a nave em direção à Itália. Antônio desembarcou na ilha da Sicília e de lá rumou para Assis, a fim de encontrar-se com seu inspirador e fundador da Ordem, Francisco. Com pouco tempo de convivência, transmitiu tanta segurança a ele que foi designado para lecionar teologia aos frades de Bolonha.

Com apenas vinte e seis anos de idade, foi eleito provincial dos franciscanos do norte da Itália. Antônio aceitou o cargo, mas não ficou nele por muito tempo. Seu desejo era pregar, e rumou pelos caminhos da Itália setentrional, praticando a caridade, catequizando o povo simples, dando assistência espiritual aos enfermos e excluídos e até mesmo organizando socialmente essas comunidades. Pregava contra as novas formas de corrupção nascidas do luxo e da avareza dos ricos e poderosos das cidades, onde se disseminaram filosofias heréticas. Ele viajou por muitas regiões da Itália e, por três anos, andou pelo Sul da França, principal foco dessas heresias.
Continuou vivendo para a pregação da palavra de Cristo até morrer, em 13 de junho de 1231, nas cercanias de Pádua, na Itália, com apenas trinta e seis anos de idade. Ali, foi sepultado numa magnífica basílica romana. Sua popularidade era tamanha que imediatamente seu sepulcro tornou-se meta de peregrinações que duram até nossos dias. São milhares os relatos de milagres e graças alcançadas rogando seu nome. Ele foi canonizado no ano seguinte ao de sua morte pelo papa Gregório IX.

Na Itália e no Brasil, por exemplo, ele é venerado por ajudar a arranjar casamentos e encontrar coisas perdidas. Há também uma forma de caridade denominada "Pão de Santo Antonio", que copia as atitudes do santo em favor dos pobres e famintos. No Brasil, ele é comemorado numa das festas mais alegres e populares, estando entre as três maiores das chamadas festas juninas. No ano de 1946, foi proclamado doutor da Igreja pelo papa Pio XII.

Cronologia
1195 - Segundo a tradição mais corrente, nasce em Lisboa, filho de Martim Afonso e Maria. De família “nobre e poderosa”. Batizado com o nome de Fernando.
1202-1209 - Durante aproximadamente sete anos, estuda na escola episcopal anexa à Catedral de Lisboa.
1210 (?) - Ingressa no Mosteiro de São Vicente, dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho, nos arredores de Lisboa.
1212 (?) - Passa para o Mosteiro da Santa Cruz, pertencente também aos Cônegos Regulares de Santo Agostinho. O mosteiro atendia a uma paróquia na cidade e a outra no meio rural, dirigia dois hospitais, dava hospedagem e tinha outros trabalhos pastorais e assistenciais.
1220 - É ordenado sacerdote. Como encarregado da hospedaria, recebe os primeiros franciscanos provenientes de Assis que o impressionaram profundamente. Pouco depois, estes são martirizados em Marrakesh, no Marrocos, e seus restos mortais são sepultados na Igreja dos Cônegos de Santa Cruz. Deixa a Ordem Agostiniana para ingressar na Ordem Franciscana, mudando de nome: chamar-se-á Frei Antônio. Pelo fim do ano, viaja a Marrocos. Apenas chega, adoece gravemente.
1221 - Na primavera, embarca de regresso a Portugal para tratar da saúde, mas um furacão arrasta a nave, e Frei Antônio desembarca na Sicília, sendo hospedado pelos franciscanos de Messina. Em maio, viaja para Assis, onde participa do famoso “Capítulo das Esteiras”. Encontra São Francisco, que havia renunciado ao governo da Ordem, e ouve suas edmoestações. Ao final do Capítulo, Frei Graciano, “Ministro e Servo” dos irmãos menores da Romanha, leva Frei Antônio consigo e o envia ao Eremitério de Monte Paolo, nos arredores de Forli, para celebrar a missa, fazer a limpeza e participar do ofício coral. Permanece ali uns quinze meses.
1223 - Em setembro, por ocasião da ordenação sacra de alguns irmãos, Frei Antônio revela sua doutrina bíblica, seu ardor e sua arte oratória. A partir deste momento, é destinado à pregação itinerante e à formação teológica dos irmãos. Pelo final do ano ou início do ano seguinte, recebe um bilhete de São Francisco, que o autoriza a ensinar a sagrada Teologia em Bolonha.
1224 (?) - Encontramos Frei Antônio em Vercelli.
1225 (?) - Passa para a França e prega em Montpeilier, Aries, Toulouse, Limoges e Bourges.
1226 - É nomeado “Custódio” dos frades menores da região de Limoges, guiando-os na difícil tarefa da evangelização, do trabalho pastoral e do combate à heresia. Dedica-se ainda ao ensino teológico e à redação de subsídios para a pregação. Entrega-se a uma intensa vida contemplativa.
1227 - No fim deste ano ou no princípio do ano seguinte, está novamente na Itália, exercendo o cargo de “Ministro Provincial” das regiões setentrionais.
1229-1230 - Pregação itinerante de Frei Antônio na Marca de Treviso e em Pádua, onde redige os Sermões dominicais, marianos e festivos.
1230 - Participa do Capítulo Geral de Assis, no fim do qual, com outros irmãos, se dirige a Roma para expor ao Papa os problemas da Ordem, que estava em plena crise de identidade, crescimento e adaptação.
1231 - Prega a famosa quaresma de 1231, que foi uma refundação cristã de Pádua. Pregação catequética diária e confissões em massa. Esta pregação-catequese foi o início de uma imponente evangelização da cidade e de seus arredores. Sua saúde está irremediavelmente comprometida. Em fins de maio, está em Camposampiero, onde completa alguns manuscritos e se dedica à contemplação. Ao meio-dia de 13 de junho, sofre um colapso. Quer regressar a Pádua, mas durante a viagem teve que se deter em Arcella, onde morre.

1232 - O Papa Gregório IX canoniza-o no dia 30 de maio, na catedral de Espoleto. É venerado com o título de Doutor da Igreja até 1568, tradição que é confirmada pelo Papa Pio XII no dia 16 de janeiro de 1946. Seu título litúrgico é Doctor Evangelícus.

Iconografia antoniana

a) O hábito franciscano – É um atributo que aparece desde a primeira hora e sempre serviu como mesma chave-de-leitura: quer dizer que ele foi franciscano. No século XV apareceram algumas breves representações que mostravam o santo com um hábito cinza, dos penitentes ou mendicantes; o corte tonsurado do cabelo tem o mesmo significado.
b) O livro (o atributo mais antigo) – Representa o Evangelho e a sabedoria de Antônio, primeiro mestre de Teologia da Ordem dos Frades Menores e doutor da Igreja. Lembra o pregador que arrebatava as multidões com as palavras do Evangelho. Por sua sabedoria bíblica, o Papa Gregório IX chamou-o de “Armário (Arca) do Testamento”.
c) O menino - O menino é visto em três tipos de representação:
1. Em cima do livro: em geral aparece sobre o livro aberto que o santo tem na mão, em gesto de quem abençoa, ou, usando um gesto de origem grega, com os dedos médio e indicador levantados, juntos, como a chamar a atenção para alguém que vai falar (no caso, o santo, pregando); pode representar a visão presenciada pelo Conde Tiso, em sua residência; o estar em cima do livro (Bíblia) evoca a característica de Frei Antônio como pregador do Verbo encarnado; o menino, segundo algumas fontes, nos primeiros tempos, não seria Jesus, mas as crianças, por quem o santo tinha enorme predileção; numa obra de El Greco, o menino (Jesus) aparece como brotando das páginas do livro, onde Antônio mostra a revelação do Verbo.
2. No colo do santo: em outras representações, o livro aparece de lado, e o menino Jesus está no colo de Antônio, numa atitude de extraordinária familiaridade, acariciando-lhe o rosto.
3. Sendo mostrado ao santo, pela Virgem Maria: Um quadro (reproduzido em alguns “santinhos”, mostra a Virgem apresentando o Filho à adoração de Antônio).
d) O lírio – O lírio é um símbolo-atributo que aparece nas representações artísticas após o século XV e se toma popularíssimo; tem dois significados: o mais antigo remete a Pádua; o lírio é a flor da estação na qual Antônio morreu; é a flor do campo, ornamental, perfumada,medicinal e frágil. O outro significado simbólico, posterior ao primeiro, refere-se à pureza, à castidade, à pobreza e ao vigor do testemunho de vida, na entrega do coração virginal a Deus. Há ainda um terceiro atributo, paralelo: a natureza, mostrada, pelos franciscanos, como sinal de Deus.
e) A cruz na mão – A cruz na mão (do século XVI) pode significar duas coisas: o espírito missionário do santo, ou, seu desejo de tomar-se um mártir da fé.
f) Os pés desencontrados - Se observarmos as imagens de Santo Antônio, veremos que seus pés não estão um ao lado do outro, mas um mais à frente do outro; trata-se de um indicativo de “em marcha”, “a caminho”, atitude que sempre caracterizou seu trabalho missionário.
g) A fisionomia adolescente - O rosto jovem, alegre e belo é consequência, como já vimos, daquela perfeição que a religiosidade popular passa à arte, relativamente aos santos e bem-aventurados; significa, também, a jovialidade do espírito do cristão.
h) O pão - Em certas obras de arte antigas (século XVI-XVII) vê-se o santo distribuindo o “pão dos pobres”; esse atributo é o mais recente; apareceu em Messina, na Sicília, em meados do século XIX, durante uma época de fome.
i) A chama - A chama de fogo que aparece em alguns ícones, especialmente orientais, simboliza o amor divino, o zelo e a paixão do santo por Jesus e seu Evangelho.
j) A nogueira - Esta é uma representação não muito conhecida; pouco antes de morrer, com falta de ar, Frei Antônio pediu que armassem sua cela no topo de uma nogueira frondosa, possivelmente nas propriedades do Conde Tiso. O santo já estava doente; falam em hidropisia e asma; há quem suspeite de obesidade (“adquirira certa corpulência…”) e diabetes; ali, além da altura (que proporcionava o ar fresco), o odor das resinas da árvore mantinha-o defendido dos mosquitos; pois mesmo ali vinha gente ouvir sua palavra. Uma pintura renascentista mostra o santo em cima da árvore, pregando ao povo, sentado, com a Bíblia na mão, como se estivesse numa cátedra, tendo, abaixo de si, São Boaventura, na época, o coordenador geral dos franciscanos; o estar na árvore é figura do desprender-se da vida terrena, já que o santo estava nos últimos dias de vida.
l) O terço – Para explicitar que Santo Antônio era um homem de oração, a iconografia do século XVI representou-o com um terço pendurado à cintura. O terço foi criado por São Domingos de Guzman (f 1221), utilizando antigos modelos orientais.
Há vários aspectos da vida, das pregações e dos milagres de Santo Antônio constantes de sua iconografia. O “sermão aos peixes”, em Rimini, o “coração do avarento dentro do cofre”, em Florença, “a mula ajoelhada diante do Santíssimo” em Rimini, fazem parte desse emocionante acervo, criado por mestres da pintura. A morte do santo, em Arcella, e lá fora as crianças fazendo o miraculoso anúncio, está magistralmente pintada numa obra de Murillo.
A icnografia leva-nos, como foi dito, a uma leitura analítica mais atenta de todos os símbolos e atributos que a devoção popular e oficial creditaram aos santos. Iconografia é para se ver e entender, independentemente de valores estéticos. Uma obra de arte, seja um quadro sofisticado ou uma rude representação popular, não é para ser achada bonita ou feia, mas para ser entendido o seu sentido.
No caso místico, as imagens de Deus e dos santos servem para criar aquela aproximação física que nossas carências reclamam, para um ajutório de memória, e para avivar a fé, relembrando as práticas e os sacrifícios daquele que está ali retratado.
E nós, hoje? Somos daqueles que entendemos que, pelo fato de possuirmos essa ou aquela imagem em nossa casa, já temos comunhão com quem está ali representado? Há pessoas que vão à igreja, oram diante das imagens, acendem velas e esquecem-se de reverenciar a Cristo, vivo e presente ali na Eucaristia. Somos desses?
Temos formação suficiente que nos dê uma exata noção entre santidade e divindade, imagem, representação, mediação, pessoa e divindade?

Extraído do livro “Santo Antônio, a realidade e o mito”, de Carmen Sílvia Machado Galvão e Antônio Mesquista Galvão, da Editora Vozes

Pensamentos de Santo Antônio

1. A vida contemplativa não foi instituída por causa da ativa, mas a vida ativa por causa da contemplativa.
2. A fé se compara ao peixe. Assim como o peixe é batido pelas freqüentes ondas do mar, sem que morra com isso, também a fé não se quebra com as adversidades.
3. Quem está cheio das glórias do mundo se assemelha à bexiga que, cheia de vento, parece maior do que é; basta uma picadinha da agulha da morte e se verá o pouco que é.
4. Não é o temor que faz o servo nem é o amor que faz o livre; mas antes o temor é que faz o livre, o amor que faz o servo.
5. Em todo o corpo do homem o diabo não encontra nenhum membro tão conveniente para ser caçado, para espiar, para enganar, como o coração, porque dele procede a vida.
6. A paciência é melhor maneira de vencer.
7. Quanto mais profundamente lançares o alicerce da humildade, tanto mais alto poderás construir o edifício.
8. Jerusalém tinha uma porta chamada “Buraco da Agulha”, pela qual não podia entrar um camelo, porque era baixa. Esta porta é Cristo humilde, pela qual não pode entrar o soberbo ou o corcunda avarento. Aquele que pretende entrar por ela tem de se humilhar.
9. Maria não afugenta nenhum pecador, antes, recebe a todos os que se refugiam nela e, por isso, é chamada Mãe de Misericórdia: é misericordiosa para com os miseráveis, é esperança para os desesperados.
10. O coração profundo é o coração do que ama, do que deseja, do contemplativo, do desprezador das coisas inferiores. Quando te aproximas de tal coração com passos devotos. Deus é exaltado, não em si, mas em ti; a sua exaltação é a intensidade do teu amor, é a elevação do teu espírito.
11. Feliz aquele que arranca de si o coração de pedra e toma um coração de carne, capaz de se doer compungido das misérias dos pobres, de modo que a sua compaixão lhe sirva de consolo e este consolo lhe dissipe a avareza.
12. Oscula com a boca a própria mão quem louva o que faz.
13. Acredita o estulto no conselho da raposa, fiado em que o bem transitório e mutável seja verdadeiro e duradouro.
14. Não poderás levar os fardos de outrem, se não depuseres primeiro os teus. Alivia-te primeiro dos teus, e poderás levar os fardos de outrem.
15. O que o Senhor faz em nós com a nossa cooperação é maior do que tudo o que faz sem nós.
16. Assim como o vento que entra pela boca aberta não mata a sede, mas aumenta-a mais, o mesmo sucede com a vaidade da dignidade.
17. Assim como a flor, quando espalha o odor, não se corrompe, também o verdadeiramente humilde não se eleva quando louvado pelo perfume da sua vida de bondade.
18. A mentira reside na língua, o roubo na mão, as extorsões no coração.
19. Aquele que segue a outro no caminho, não olha para si, mas para aquele a quem constituiu guia da sua vida.
20. Antes de entrar um raio de sol em casa, não aparece dentro, no ar, o pó; se, porém, entrar um raio de sol, parece cheia de pó.
21. Todo enfermo diz: Amarga é a poção para os que a bebem, mas quando se afastar a enfermidade, então se gloriará.
22. O insensato, como um asno, ouve somente o som da palavra divina, mas o sábio percebe-lhe a força e leva-a ao coração.
23. Dizem que o filho da cegonha ama tanto o pai que, ao vê-lo envelhecer, sustenta-o e alimenta-o. Isso faz por instinto. Também nós devemos sutentar o nosso Pai nos seus membros débeis e doentes e alimenta-los nos pobres e necessitados.
24. A soberba, para não ser desprezada, procura encobrir-se na preciosa humildade.
25. Usa mais vezes os ouvidos do que a língua.
26. O hipócrita se assemelha ao pavão: ao ser provocado pelas crianças, mostra o esplendor das suas penas e, quando faz rodar a cauda, descobre torpemente o traseiro.
Pensamentos extraídos do livro “Ensinamentos e Admoestações”, da Editora Vozes; e “Obras Completas de Santo António de Lisboa”, Editorial Restauração, Lisboa.


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