02/10/2015

Papa carrega consigo a cruz de um padre iraquiano decapitado

Papa Francisco traz consigo um símbolo de dor, mas também de fé cheia de esperança em Deus: a cruz de um padre decapitado no Iraque. Leva-a consigo há alguns dias, segundo ele mesmo revelou na manhã da última quinta-feira, durante o encontro no Salão Paulo VI com os participantes do congresso internacional para os jovens consagrados, que aconteceu em Roma (de 15 a 19 de setembro). Durante a audiência, respondendo às perguntas de três jovens, também declarou que sente vergonha por seus pecados; em seguida, destacou que aquelas pessoas que são rígidas com a própria vida não sonham. Evangelizar, indicou, não é “fazer proselitismo”.
A reportagem é de Domenico Agasso Jr e publicada por Vatican Insider, 17-09-2015. A tradução é de André Langer.
Ao saudar os religiosos do Iraque e da Síria, e recordando particularmente os “mártires” destes países, “os nossos mártires de hoje”, o Papa Francisco disse: “talvez vocês conheçam algum deles. Há alguns dias, na Praça, um padre iraquiano se aproximou e me deu uma cruzinha: era a cruz que o padre que foi decapitado por não renegar a Jesus Cristo trazia em sua mão. Esta cruz a levo comigo”.
E depois fez uma advertência aos religiosos: “Senhor, Te agradeço porque a minha congregação não é como essa ou aquela”. Francisco usou as palavras do Evangelho que narram a oração falsa do fariseu para descrever os sentimentos destes consagrados que querem ser melhores que os outros e caem justamente no “farisaísmo”. “Jesus – recordou Francisco – é severo com os fariseus que eram os observantes do seu tempo”. “Todos – explicou – somos pecadores, mas não em teoria, na prática. Eu recordo meus pecados e me envergonho, mas o Senhor nunca me deixou sozinho, nem mesmo nos momentos mais obscuros da tentação e do pecado”.
Francisco também falou sobre “as comodidades da vida consagrada”. “‘Temos que fazer isto... Estamos tranquilos... Eu observo todos os mandamentos que devo cumprir aqui, as regras... Sou observante...’. Mas o que Santa Teresa dizia sobre a observância rígida e estruturada, aquela que tira a liberdade, e essa era uma mulher livre, tão livre que teve problemas com a Inquisição”. “Há uma liberdade que vem do Espírito e uma liberdade que vem do mundanismo – precisou. O Senhor chama vocês e chama todos para aquilo que Pierre (um dos jovens que fez uma pergunta, ndr.) chamou de ‘forma profética da liberdade’, ou seja, a liberdade que vai unida ao testemunho e à fidelidade: uma mãe que educa os seus filhos na rigidez (‘Tem que, tem que, tem que...’) e que não deixa que os seus filhos sonhem, que tenham sonhos, não deixa que seus filhos cresçam, anula o futuro criativo de seus filhos; os filhos serão estéreis. Também a vida consagrada pode ser estéril, quando não é, precisamente, profética, quando não se permite sonhar”.
Papa também recordou: “Santa Teresa do Menino Jesus, encerrada em um convento e com a priora não tão fácil, eh? – acrescentou entre os risos dos presentes; alguns pensavam que a priora fazia as coisas só para molestá-la, mas essa freirinha de 16, 17, 18, 21 anos, sonhava, nunca perdeu a capacidade de sonhar, nunca perdeu os horizontes, e hoje é a padroeira das missões, dos horizontes da Igreja”. Sobre a evangelização, o Papa Francisco insistiu: “Não é a mesma coisa que fazer proselitismo; nós não somos uma associação esportiva preocupada em aumentar o número dos sócios; evangelizar não é apenas convencer, mas testemunhar que Jesus Cristo está vivo, e este testemunho se dá com a carne e com a vida”.
E acrescentou, para explicar melhor suas ideias: “digo uma palavra um pouco difícil e lhes falo sinceramente: um dos pecados que com frequência encontramos na vida comunitária é a incapacidade do perdão: ‘Este vai me pagar’. Isto é sujar o outro, as fofocas em uma comunidade, e a incapacidade de perdoar”. “As fofocas – insistiu – jogam uma bomba sobre a fama do outro e destroem o outro, que não pode se defender. E assim, acontece que o religioso que consagrou sua vida a Deus converte-se em um terrorista, porque joga uma bomba sobre sua comunidade”.
Papa também pediu perdão, brincando: “Perdoem-me se sou um pouco feminista, mas tenho que agradecer o testemunho das mulheres consagradas”. “Mas não de todas, eh? – respondeu o aplauso que eclodiu no Salão Paulo VI. Há algumas um pouco histéricas – acrescentou entre mais aplausos –, mas quero agradecer o testemunho, porque vocês têm esta vontade de estar na linha de frente, porque são mães, têm esta maternidade que torna a Igreja próxima”.
“Profecia, proximidade, memória”, “não narcisismo” e a “cultura do provisório”. Estes foram os pontos que Franciscodestacou aos religiosos e religiosas no final de sua conversa, que durou aproximadamente 40 minutos. Com relação à memória, ao recordar o próprio encontro com o Senhor, comentou: “Quando tu te recordas das maravilhas, te vem um sorriso de orelha a orelha, um desses belos sorrisos, porque o Senhor é fiel”.
“Profecia, memória, proximidade, coração que arde de zelo apostólico – resumiu –, cultura do definitivo, não ‘usa e joga fora, não a cultura do provisório”. E também não ao narcisismo: “Duas palavras, uma que é o símbolo, não sei se a pior, mas é uma das piores atitudes de um religioso, espelhar-se a si mesmo, o narcisismo; cuidem-se muito disto – exortou –, e não vivamos em uma cultura narcisista que sempre nos leva a ter esta tensão para nos espelhar em nós mesmos: não ao narcisismo, ver-se a si mesmo; pelo contrário, sim a isso que te despoja de todo narcisismo, sim à adoração, e eu creio que este é um dos pontos em que devemos progredir na oração de adoração”.
Fonte
Unisinos

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